O que é falar sobre ser mulher em um momento em que tudo é tão plural e possível? Corro o risco de ser mal compreendida, mas mesmo assim quero abrir essa conversa porque sei que essa pluralidade não é ainda presente em todas as pessoas.
Então já te digo que este é sim um tema que me tira da zona de conforto, principalmente por eu conseguir enxergar que não é nada simples o caminho que vou tentar trazer. Muito pode ser dito, desde a luta das mulheres, dos estudos que mostram em números como a mulher sofre para acessar diversos espaços e até de como as próprias mulheres reproduzem muitas vezes discursos de ódio contra seus pares (não me excluo disso porque é uma tarefa constante estar atenta para essas influências).
Poderia trazer a “Pink Tax”, mesmo que já tenha falado no Podcast (que inclusive você pode ouvir clicando aqui), mas quero tentar trazer um pouco mais com o texto de hoje. Quero conversar diretamente com você, quero trazer questionamentos para a sua vida. Vou colocar um sequência de perguntas e quero que você seja o mais sincera possível ta bem? Eu acho bem bacana ir escrevendo as respostas em um lugar para depois você ler, para de fato entrar em contato com esse tema. Eu confio que é uma experiência diferente fazer isso com uma atenção mais focalizada e maior. Então pegue um papel ou até mesmo no seu celular só para responder de verdade. Vamos lá!
- Você já reparou no corpo de uma mulher e a julgou?
- Você já criticou uma mulher por não estar “arrumada”?
- Você já ouviu a seguinte frase: As mulheres não se arrumam para os homens. Na verdade eles nem reparam, se arrumam mesmo é para outras mulheres? O que você acha dessa frase?
- Você acha que é normal mulheres serem as responsáveis pelos filhos?
- O que você acha que define uma mulher?
- Complete a frase: uma pessoa se torna mulher quando….
- O que você acha de mães solteiras?
- A mulher pode sentir prazer?
- Qual sua opinião sobre mulheres que estão em cargos de influências e responsabilidades dentro de empresas?
- O que você acha de mulheres de mais de 45 anos que estão solteiras?
- Você acha que a mulher pode beijar, ter relações sexuais e se relacionar com alguém sem algum compromisso fixo?
- Qual o tempo necessário antes de uma mulher ter uma relação sexual com alguém?
- A mulher pode sentir se estimular? Masturbar?
- Se você se considera mulher: -é confortável para você falar de sexo? – você já gozou? Se não, você ficou quieta?
- Você já desejou ser homem? Por que?
Essas perguntas foram surgindo apenas enquanto ia escrevendo esse texto, mas que gostaria muito de ter diálogos amplos sobre todas essas questões porque a maioria delas se tornam “tabus” na nossa sociedade. E raramente temos espaço para questionar tudo isso simplesmente porque não. Se olharmos a história, muito do que é discutido é majoritariamente implementado por homens, através da visão deles, até mesmo de leis e espaços.
Porém, o que quero te mostrar é que esse questionamento pode e deve começar de dentro de nós, do nosso espaço de acolhimento e desconforto. Não adianta colocar a culpa em alguém, de forma alguma essa é a intenção. O que adianta é reconhecer o papel no meio de tudo isso, impedir-se de reproduzir crenças que não fazem mais sentido.
Por que a mulher não poderia ter controle do próprio dinheiro? Por que a mulher não poderia ganhar mais dinheiro que o parceiro em um relacionamento heterossexual? Por que a mulher não pode se vestir como desejar sem que isso seja desculpa para o comportamento abusivo e agressivo de um homem? Por que a mulher não pode estar em uma espaço de influência dentro de uma empresa sem que existam comentários de que ela está lá não por mérito, mas porque teve relação com alguém do meio? Por que não conseguimos ainda reconhecer, enquanto sociedade, a capacidade incrível que a mulher tem de fazer o que ela quiser? Por que ainda tentamos controlar e reprimir tanto as mulheres com julgamentos, críticas, repressões, abusos?
Por que a mulher não consegue e não pode ser simplesmente livre? Então, pode sim. Com certeza pode. Absolutamente pode. A questão é que estamos tão reprimidas que é difícil enxergar tudo isso. Muitas vezes ainda é difícil se ver capaz e independente sem a necessidade de uma figura masculina que vai sustentar tudo isso.
Essa liberdade começa quando assumimos para nós mesmas que somos capazes. E por isso a autoconfiança é tão fundamental. Por isso o autoconhecimento é indispensável. Por isso os questionamentos são tão importantes. Por isso uma rede de mulheres que se apoiam torna tudo mais simples.
Então busque por isso se fizer sentido, porque você não precisa ficar nessa caixinha. Você não precisa de príncipe. Você não precisa se limitar para caber. Você é incrível do jeito que você é. Nós mulheres somos incríveis, em todas as nossas formas, jeitos, curvas, tamanhos. Lembre-se disso.
O caminho de volta para si começa em você. Começa quando nos perguntamos: O que é ser mulher?
Por Amanda Abade
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